domingo, 3 de abril de 2011

terceiro dia.

"uma carta para quem quer que seja." (é mais um desabafo)

despedi-me de ti para sempre, ainda que vá estar contigo esta semana, e na próxima, e nas que se seguirem.
despedi-me de ti sem uma palavra, pelo contrário, trocámos conversa de circunstância, ou melhor, tu deste o tom, como sempre fazes, a comandar tudo e todos.
despedi-me de ti e, de repente, foi como se a teu lado estivesse a outra que um dia fui, coisa pequena com onze anos, aquela a quem roubaste a infância, a juventude e tudo o mais.
não estiveste sozinho na tarefa, é bem verdade. e nada teria acontecido se eu tivesse tido a inteligência, a força, o que queiras chamar, de não ter passado toda a minha vida tentando que me amasses, tu e os outros.
enganei-me a mim estes anos todos, e agora que te digo adeus rezo para que o peso da tristeza, este buraco cravado no meu coração, desapareça de vez. já vivi mais de metade da minha vida em busca do que não existia, como uma cadela sem dono, só com três pernas, e que ninguém quer.
digo em silêncio que tudo vai correr bem, tudo vai passar. mas a dor é igual à que sempre foi e nunca me habituarei à desilusão, à constatação que, afinal, existem coisas que não são sagradas, a vida pode, pura e simplesmente, ser-nos cruel sem razão.
talvez um dia eu te consiga desculpar, ou melhor, compreender. mas por essa altura já deverei ter perdido a noção do real, porque, quando chegar ao fim da vida, a percepção do que realmente aconteceu e do que sonhei deverá ser tão difusa como as lágrimas que agora choro, pelos cantos da casa, pelos quantos da vida.

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